De repente
Pandemia
Toque de recolher
Quarentena
Todos trancados em seus metros quadrados
Muitos apertados, mais do que outros
O sufoco de quem não sabe
Como será amanhã
Poucos desfrutando de tantos confortos
À vontade para se espreguiçarem e curtirem
Seu streaming em cinquenta polegadas
Sua refeição pelo app
De repente
Sorrateiro
O vírus
Dentro da gente
Todos os sintomas estiveram na live daquela quarta-feira
Com direito a QR code e tudo mais
Febre, enjoos, dores no corpo, dores na barriga, dores nas costas, manchas no pulmão
Só faltou o ar
Bem melhor que remédios, vitaminas, água
O suporte de amigos, família, muitos irmãos
Dias de luta, dias de glória
Em isolamento social, mas no esconderijo do Altíssimo
De repente
A inquietação do tempo presente
E o temor das coisas futuras
Perderam a força
A garantia do que se espera, a prova do que não se vê
Nos sustentou até aqui e nos arremessa para o daqui a pouco
Toda dor é por enquanto, o amor é para sempre
Basta a cada dia o seu próprio mal
Já voltaram os cheiros, os sabores
Tão logo se abrirão as portas, e as ruas pulsarão normalidade
Ainda que o amanhã seja outro
Definitivamente outro
Luciano Motta, 19/05/2020